Alimente os Peixes!!!!

12 janeiro 2011

Fado

Ela era uma mulher de classe.
Os anos como dona de casa tinham tirado muito do seu brilho e do seu charme.
Só ela sabia quanto sacrifício fizera para manter o cérebro ativo.
Parece bobagem, mas só quem vive a rotina escravizante das tarefas domésticas é que sabe o quanto custa manter-se atenta a coisas diferentes de sabão sapólio cera líquida.
Pois bem, um dia teimou com Ogum e resolveu sair do lar.
Foi dar um tempo no mundo, como dizem.
Era ainda nova e bonita. Inteligente.
Saiu e na primeira noite conheceu um homem a altura das suas expectativas.
Ele era alto, bonito, elegante.
Ele entendia de vinhos.
Ele acendia o cigarro, chamava pelo garçom.
Quem abriu a porta do carro foi ele.
Ela então desaguou feito um dique.
Eu poderia dizer desabrochou como uma flor, mas no caso dela foi quase um alívio.
Ela se viu usando suas melhores roupas, criando um estilo.
Ela podia usar as melhores palavras, citar autores.
Ela estava no círculo.
Tudo era muito fino, muito chique e ela então achou que era o nirvana.
Como em todo relacionamento, os acontecimentos tomaram o rumo do erótico.
Inevitável, disse ela. Finalmente, disse ele.
Ela então achou que o sexo tinha ter o mesmo ritmo social que eles.
E ela tocava-o levemente, quase como uma desculpa.
Os beijos mansos, de línguas mornas.
As mãos quase sempre nas mãos dele, suando pouco, o penteado intacto.
Em duas semanas ele trocou-a por uma mocinha ainda na casa dos 20, que ria desavergonhadamente de todas as piadas bobas dele. E que deixava recados em código pouco secreto na sisuda agenda dele, com letra grande e redonda de quem está acostumada a escrever à lápis pela vida.

4 comentários:

Anônimo disse...

Como diria o filosofo quasi contemporaneo Nelson Rodrigues: A vida como ela é!

Gigi Jardim disse...

É?????? Poooooooooooooooooootz! =/

Nina Blue disse...

Muito bom, loirinha, aliás, prá lá de boooom!
Beijos

Gigi Jardim disse...

Obrigada, Nina! :)