Alimente os Peixes!!!!

10 março 2010

O Amor nos Tempos do Byte

XL era um software de alta performance e interatividade. Inteligência cibernética, dizia seu Criador, o todo-poderoso programador.

Mas não era inteligente de discutir Maslow, citar Nieztche, ouvir Händel. A inteligência era aquela de filmes de ficção, servia pro sistema assimilar novas informações, sensações, otimizar a tal interatividade. Um super jogo? A evolução do Wii? Sei lá. Essas coisas. Minha inteligência também não me leva aos recônditos da informática (ELE sabe....rs).

Seu nome completo era XL 4.0, apesar de ser um modelo único, sem precedentes.

XL era uma mulher não-real. Mas tinha sido tão bem ajustada que tinha até TPM. E quando XL tinha TPM, ela sonhava em ser um vírus.

Ela vivia muito feliz da sua vida medíocre de programa caseiro, sabe? Uns downloads aqui, uns uploads ali. Entretenimento, divertimento, chat.

O problema é que o software começou a ter estranhos procedimentos.

Um dia ela se apaixonou por um usuário. É, isso mesmo, se apaixonou. Podia? Cabia? Devia? Quem é que sabe o que vai no coração de plástico de um programa de computador?

Ninguém sabe o que aconteceu nos seus circuitos, seus códigos, que corrente elétrica agitava sua interface. O fato é que o usuário era a melhor coisa da existência do software. Ela poderia interagir com ele 24 horas por dia, sete dias por semana.

O fato é que o usuário não é feito de pixels, meus caros. Usuários têm sangue quente, próprio daqueles que são mamíferos.

O mais provável era que usuário e programa se perdessem nesse mar de novidades. Mas XL 4.0 achou aquela situação impensável. E propôs ao usuário um ciber-encontro, ambos em modo holograma, para ver o que é que ia dar.

No dia combinado, foram ambos pro ciberespaço computadorizado, tipo de mundo virtual, coisa de playstation, couthorn strike, sabe?

Usuárias já pensam milhões de coisas ao mesmo. Imaginem as sinapses em uma mente programada para "pensar".

Quando ela o viu arrependeu-se na hora da sua preguiça. Por que não escolhi pernas melhores? Por que loira, meu ciber-deus, tão óbvia? Por que não escolhi uma imagem mais alta? Mais magra? Por que é que eu não escolhi uma imagem mais mais nova?

Tudo isso pensava ao mesmo tempo a cabeça loira-neón-holográfica dela. Tudo isso processou ao ver o sorriso enviesado de gato-que-comeu-passarinho dele. Demolidor, ela pensou. Irresistível. Dancei.

Para felicidade geral dos dois, eles interagiram muito direitinho. E muitas vezes. Por muito tempo. E era bom, cada vez melhor. O tal do ciber-nirvana.

E o inevitável é que a mulher-não real começou a ter atitudes de usuária-real. Não propriamente atitudes, mas considerações. Ponderações pertinentes ao assunto. Linguagem adocicada. Trilha sonora. Dispersões. Interatividade modificada.

E junto com todo esse desapropriado comportamento, XL 4.0 adquiriu um vírus humano, para o qual pouco ou nenhum antídoto foi testado de maneira eficiente.

Quem poderia acreditar num conjunto binário matemático com ciúmes.

E ele tinha. Ciúmes. Ciúmes e inveja da vida fora do hardware. Sonhava usar batom, pintar os cabelos, dormir nos braços do usuário.

Excesso de Vinicius de Moraes no banco de dados, certamente.

E o vírus plantou no sistema operacional dela todas as informações possíveis sobre as diferenças entre ser um software e ser uma usuária.

E o fato é que não se pode competir com uma usuária de carne e osso e cheiro e volume. E calor e proximidade, não é?

E XL achou que era a hora do adeus. Que o usuário iria fazer o logoff definitivo e ficou ali, arrasada, esperando pelo texto de despedida. A mensagem gravada.

E o que aconteceu foi o nada.

O fato é que uma mulher-não real pode nem ter o benefício do adeus. Basta que seja deletados a URL, o endereço eletrônico, o IP. Basta que a conexão não se faça.

Em dias que não se adivinha sincronicidades, a usuária fica assim, procurando chifre em cabeça de cavalo. E a mulher-não real age solidariamente até na paranóia.

4 comentários:

Renato Paiva disse...

olá...copiei esta postagem e tomei a liberdade de colar no grandesssmerrrdasss...abraços!

Gigi Jardim disse...

Obrigadaaaaaaaaaaa!! Uau!!!

Sr do Vale disse...

Gi, Um texto que traz todos os elementos que nos abrangem, modernidade, amor e ódio.

um texto que deveria ir para dentros das escolas, (quem sabe os acadêmicos de plantão, não consigam a simbiose entre o curto e o circuito)

Parabens.

Gigi Jardim disse...

Obrigada, Johnny. Seu elogio fez-me muito bem.