O Senador era um homem sério e discreto, apesar de ter cara de menino. E era fera em tecnologia, sabia tudo de redes, integração de sistemas, help-desk, um homem viajado, formado pela Royal Academy Foderosíssima BlaBlaBla Peixoto de Oliveira, se nãô me falha a memória. Um homem nada mais ou menos.
A loira era dispersiva e faladeira por natureza. Já tinha começado um não sei quantos cursos, terminado poucos, estava tentando graduar-se pela terceira vez. Como manter o foco em uma única coisa com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo?
O Senador tinha amigos de infância, viam-se sempre em rituais informais de happy-hour, às sextas-feiras, a rotina de sair da rotina. Amigos não fazem reuniões.
A loira estava numa fase caseira. estava na confortável rotina de casa-faculdade-trabalho-casa.
A loira era viciada em informática e achava que a internet era tão boa invenção como a roda. E, às vezes, até melhor. A loira era viciada no cybermundo desde que tinha tomado contato com ele pela primeira vez. A loira tinha uma porção de amigos reais e uma porção de amigos virtuais.
O Senador tinha um relacionamento estável. A loira era recém-separada.
O Senador morava na praia. A loira, na cidade.
O Senador não gostava da cidade onde morava a loira. O sotaque da gente de lá era risível. A loira tinha nascido na praia. E o mar era o habitat natural dela, mesmo que a loira voltasse à praia em intervalos cada vez mais longos.
O provável era que o Senador e a loira nunca soubessem da existência um do outro.
Ocorre que a loira amava rock. Até aí, sem novidades. Espantoso era que o Senador amava rock. Amava rock e sabia muito sobre o assunto. Conhecia bandas e músicas e fichas técnicas e história. Um estudioso nato.
A loira nunca havia se preocupado com os detalhes todos da música. Rock ela ouvia no ventre e a partir dos quadris. Ela conhecia os clássicos. Ainda faltavam tantos!
Um dia, o Senador estava buscando um cd específico de uma banda especial num conhecido site de busca e encontrou um local cujo nome chamou-lhe a atenção pelo bonito.
Um dia, a loira foi convidada pra contribuir num blog coletivo e lá, fuçando nos arquivos, um nome chamou-lhe a atenção pelo conteúdo musical e poético.
Eles iam sempre nesse site e, um dia, eles se encontraram no chat. Ela loira, ele predador.
Eles conversaram muito e se divertiram juntos. Ela aprendeu muito sobre rock, graças a ele. Ele aprendeu cultura de almanaque com ela.
Gostaram um do papo do outro. Trocaram fotos. E-mails.
Trocaram telefones e se falaram.
Depois se encontraram e se beijaram muito. O mundo ficou um lugar eletrificado depois que eles se viram.
Mas a loira mora na cidade. O Senador, na praia.
Não fosse a distância quem sabe o rumo que teria isso?
Um comentário:
Caro Senador
Se nadou
Não morra na praia...
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