Alimente os Peixes!!!!

03 julho 2009

Crônica das Cebolinhas

Ela era uma moça suave, daquelas que você convida para as festas infantis. Prestativa, calma e discreta.
Eu chamaria ela de "morna".
Todos os seus relacionamentos eram mais amigáveis que fogosos e ela gostava disso.
Ao menos era o que ela achava até ele apareceu na sua vida.
Era uma situação atípica, ela estava com a sua pior roupa, o cabelo despenteado, chovia, ela estava menstruada.
Quem, numa cena dessas, arriscaria um flerte?
Um segundo olhar mais interessado?
E, no entanto, quando ela percebeu toda a figura dele estava encrustrada na sua retina.
Abertos ou fechados, tudo o que ela podia ver era o sorriso branco dele, o olho meio enviesado, o cabelo desalinhado, o tom casual de voz e pele.
Quando ela percebeu, ele era o centro da sua conversa, tema recorrente em qualquer oportunidade e ela se deu conta de que, finalmente, alguém ia tirar ela daquela piscina de gelatina em que vivia.
Ah, sim!
Porque ela sonhou que ele ia salvá-la do tédio e da mesmice.
Que juntos eles iriam produzir energia suficiente para acender um estádio de futebol.
Todas aquelas maravilhosas metáforas que ela lia nas revistas femininas.
E ela lembrou de todos os aniversários dos membros da família dele. Sabia o nome de todo mundo. Aprendeu a fazer o prato preferido. Ouvir as músicas preferidas. Usar as cores dele.
Tentou até, heresia das heresias, torcer pelo time dele.
Para ela, todas essas atitudes eram as mais louváveis, as que melhor garantiriam o sucesso da relação deles dois.
O que viu, na verdade, foi a inevitável degeneração daquilo que era seu sonho de amor.
Ele apareceu com uma namorada.
Mas ele queria ser seu amigo, viu?
Todos aqueles clichês, insuportáveis.
E ela pensou:
- foi porque eu não podia estar sempre com ele?
- foi porque eu moro longe?
- foi por causa das diferenças?
- é porque eu não fumo e gosto pouco do cheiro dos muitos fumados cigarros dele?
Por meses ela buscou, em vão, o "onde foi que eu errei?".
Por mais que ela esmiuçasse os fatos, o fato é que nenhuma resposta era conclusiva o suficiente.
E ela descobriu que, às vezes, independentemente da nossa vontade, as relações acabam.
Independentemente dos cuidados que tenhamos, as pessoas buscam outras pessoas.
Ela quis cortar o cabelo, tingir de loiro, aprender a fumar.
Ela quis comprar uma moto, beber destilados, usar minissaias.
O que ela fez, meus caros, depois de juntar cada pedacinho seu que estava espalhado pela casa, foi retomar seus sentimentos.
E guardá-los todos muito para usar uma próxima vez, com algum novo alguém, que, se não entender toda essa carga de romantismo, possa, pelo menos, fazer menos estragos no final.


Um comentário:

Cici disse...

Muito Legal !!!!
Que criatividade vc tem hein ....