Sou cinéfila. Do tipo que presta atenção na história muito mais do que nos defeitos e erros de
continuismo e essas chatices todas.
Pois bem.
Esse fim de semana assisti ao filme americanóide paranóico A Ilha. Lá onde os clones vivem como se fossem humanos.
Os clones são produtos destinados a peças de reposição, manja? Bichou, você vai lá e pega seu clone e usa o orgão dele novinho e bem cuidado. Com rações balanceadas e tudo. Tipo: eu poderia beber, fumar, cheirar e depois era só trocar o fígado, o pulmão e pronto! Lá estaria eu novinha em folha, pronta pra outra.
Os clones eram chamados de agnatos.
Porque eu disse tudo isso?
Porque estou me sentindo muito agnata nesse mundo em que vivemos: um produto para uso de uma sociedade irresponsável e desastrada.
Alguém com sonhos descartáveis e bandeiras esfarrapadas...
Alguém que está condicionada pela mídia televisiva a almejar ser uma personagem da novela das oito. Ter um corpo como a da modelo-atriz da capa da caras-contigo-fofoca-quem. Ter um estilo de vida como alguém que a própria mídia está produzindo para ser o teu ícone.
Mas, como combater esse agnatismo se o Corinthians está na lanterna do campeonato, o Dunga é o novo técnico da seleção, o Líbano está de novo sendo bombardeado pelos americanos-israelitas e a Débora Secco está puta da vida com a Maria Rita?
Como aparecer e disputar espaço com todas essas notícias?
Como dizer: gente, tem gente morrendo de fome porque você está comprando CD pirata e fumando cigarros de camelô.
Como dizer: preste atenção real na sua vida cívica, meu chapa, que a nossa batata tá assando?
Seguinte: produto por produto, eu prefiro ser um subproduto do Rock, como o Cazuza.
Mas quem vai me ouvir, logo hoje que o PCC começou a semana mandando nossas coisas pelos ares?
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