Elvira entrou no carro, fechou a porta delicadamente, ajustou o cinto, abaixou a paleta do lado passageiro, olhou-se no espelho, ajeitou os cabelos. Tudo automaticamente. Tudo cotidianamente.
Abriu para si mesma o mesmo sorriso de esgueia, olhou para si mesma com o mesmo olhar de soslaio, ajeitou os cabelos novamente, a franja, sempre a irriquieta franja desalinhada.
No trânsito rotineiro percebe os motoristas incautos, aqueles que não usam o cinto de segurança, vai checando as placas dos carros, procura na multidão anônima talvez um salvador aceno de criança, coisa que sempre a comove. Mesmo quando a tensão pré-menstrual já passou.
No rádio, a mesma ladainha murmurada de fluxos, refluxos, contra-fluxos. Verdade mesmo é que circulamos sobre uma massa estagnada de aço e borracha.
Então é verão e de repente alguma música toca, boa o suficiente para ser cantarolada, naquela voz que Elvira teima em deixar aguda, sonhando com os palcos fictícios da sua adolescência.
No mesmo prédio de sempre, na mesma sala de sempre, ao lado das mesmas pessoas de sempre, Elvira suspira entediada.
É, Elvira. Carnaval acabou.
Chega de confetes, serpentinas e irresponsabilidades.
Chega de dançar, suar, ficar frenética.
Chega de sambar, rir, gargalhar.
Lembre-se, você já é uma mulher de 30.
Está mais do que na hora de vestir a sua máscara.
Um comentário:
Taí gostei da crônica...e espero 'lê-Gi' mais aqui.
Bjs
ns
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